Fiquei muitos anos sem assistir o programa Pânico, e sempre
tive muitas críticas quanto ao conteúdo e à forma como o programa expõe seu
conteúdo, ou, na maioria das vezes, a falta de conteúdo. No entanto, quando
apareceu a oportunidade de uma pauta nesse programa, que, diga-se tem uma audiência
imensa, falando sobre este tema tão importante, e querendo uma visão feminista,
dando fala a mim e a outras mulheres e que, apesar de ter cometido alguns
erros, que falarei mais pra frente, acredito que prestou um bom serviço. É preciso
ter em mente sempre o alcance que um programa como esse tem e a importância de
se levar temas como machismo, assédio e a cultura do estupro para o grande
público.
Vivemos em uma sociedade patriarcal e machista há mais de 5
mil anos, é preciso, antes de mais nada entender isso, entender que mesmo nós,
mulheres, reproduzimos machismos que intronizamos e que é bastante árduo o trabalho de desconstrução.
Cada uma tem um ritmo e se reconstruir leva tempo.
Quebrar valores arcaicos e profundamente enraigados nessa
nossa sociedade precisa de trabalho de formiga, diário, insistente e cansativo.
Identificar, apontar, esclarecer, tenho isso pra mim como
missão de vida já tem alguns anos, quando assumi o feminismo como luta
necessária e passei a dedicar boa parte do meu tempo à militância micro política,
com amigos, na família, no bar, na escola, em qualquer lugar.
Então, vamos ao programa?
Antes de achar muito legal a iniciativa do quadro do Zé
pequeno, melhor quadro do programa deste domingo certamente. É preciso lembrar
que é um programa feito por homens, e seu personagem principal é um homem
(Iiih, lá vem a Lu falando dos ômi! Uai gente é, num é?) e, portanto, apesar de
eu achar que no todo foi positivo ficou um ranso machista permeando a linha
narrativa do quadro todo.
Vou dissecar:
Nos esquetes na rua, mais especificamente, na fala do Zé
pequeno que repetiu muitas vezes a fase “mexer com a mulher dos outros”, migo,
NÃO né?
A ideia de que uma mulher “precisa de um cara” pra ser
respeitada é a primeira coisa que precisamos DESTRUIR. O respeito é pelo SER, e
jamais deve ser atrelado ao gênero, etnia ou sexualidade.
Quando vemos a atriz, que, para se desviar do assédio, usa o
famoso “tenho namorado”, nos vemos numa situação corriqueira de toda mulher, e
apesar de ser uma fala que muitas vezes funciona, reforça o fato que falei
acima. Seria muito mais eficiente mostrar que ela simplesmente não quer, não
está a fim, por ela mesma, por que os homens precisam entender de uma vez por
todas que não são a ultima bolacha do pacote, sim migos, vocês serão rejeitados
muitas vezes na vida, lidem com isso.
Outro argumento recorrente foi o “Já pensou se fosse sua
mãe, irmã, etc”. Ok, é mais fácil entender quando trazemos a questão para
próximo, para entes queridos, mas é de extrema importância sair do pequeno,
porque existem milhões de mulheres no mundo que não tem nenhum tipo de
proximidade a você, migo, e que merecem respeito tanto quanto e enquanto você
continuar a separar mulheres em categorias o machismo persiste. O RESPEITO é
para TODAS.
Dito isto, preciso falar dos comentários extremamente
desagradáveis dos apresentadores sobre o corpo da Atriz e justificando os
olhares invasivos dos homens na rua por onde ela passava, preciso? Acho que
não, né?
No mais ficou evidente o tanto que é desconfortável uma situação
de assédio, e o quanto os homens são invasivos e desrespeitosos. Mas acho que
vale muito ressaltar que isso acontece, sempre, muito, todo dia, na vida de
todas as mulheres, TODAS. A escolha do programa por uma atriz dentro do padrão
de “mulherão” é também uma evidencia forte do machismo que justifica o assédio
com a forma ou exposição do corpo.
E isso precisa acabar.
A Culpa Nunca é da Vítima!
Por fim, fica a maior mensagem e o porquê de ter valido
muito a pena participar do programa. Manas, estamos cada vez mais unidas e
prontas para apoiar umas as outras. É muito importante denunciar, gritar, fazer
um excandalo por menor que possa parecer, se é importante para você, se te
abalou e agrediu, GRITE. Você terá apoio. Você não está sozinha!