10 de abr. de 2017

Sobre feminismo, ativismo e minha participação no programa Pânico



Fiquei muitos anos sem assistir o programa Pânico, e sempre tive muitas críticas quanto ao conteúdo e à forma como o programa expõe seu conteúdo, ou, na maioria das vezes, a falta de conteúdo. No entanto, quando apareceu a oportunidade de uma pauta nesse programa, que, diga-se tem uma audiência imensa, falando sobre este tema tão importante, e querendo uma visão feminista, dando fala a mim e a outras mulheres e que, apesar de ter cometido alguns erros, que falarei mais pra frente, acredito que prestou um bom serviço. É preciso ter em mente sempre o alcance que um programa como esse tem e a importância de se levar temas como machismo, assédio e a cultura do estupro para o grande público.

Vivemos em uma sociedade patriarcal e machista há mais de 5 mil anos, é preciso, antes de mais nada entender isso, entender que mesmo nós, mulheres, reproduzimos machismos que intronizamos  e que é bastante árduo o trabalho de desconstrução.
Cada uma tem um ritmo e se reconstruir leva tempo.
Quebrar valores arcaicos e profundamente enraigados nessa nossa sociedade precisa de trabalho de formiga, diário, insistente e cansativo.
Identificar, apontar, esclarecer, tenho isso pra mim como missão de vida já tem alguns anos, quando assumi o feminismo como luta necessária e passei a dedicar boa parte do meu tempo à militância micro política, com amigos, na família, no bar, na escola, em qualquer lugar.
Então, vamos ao programa?
Antes de achar muito legal a iniciativa do quadro do Zé pequeno, melhor quadro do programa deste domingo certamente. É preciso lembrar que é um programa feito por homens, e seu personagem principal é um homem (Iiih, lá vem a Lu falando dos ômi! Uai gente é, num é?) e, portanto, apesar de eu achar que no todo foi positivo ficou um ranso machista permeando a linha narrativa do quadro todo.
Vou dissecar:

Nos esquetes na rua, mais especificamente, na fala do Zé pequeno que repetiu muitas vezes a fase “mexer com a mulher dos outros”, migo, NÃO né?
A ideia de que uma mulher “precisa de um cara” pra ser respeitada é a primeira coisa que precisamos DESTRUIR. O respeito é pelo SER, e jamais deve ser atrelado ao gênero, etnia ou sexualidade.
Quando vemos a atriz, que, para se desviar do assédio, usa o famoso “tenho namorado”, nos vemos numa situação corriqueira de toda mulher, e apesar de ser uma fala que muitas vezes funciona, reforça o fato que falei acima. Seria muito mais eficiente mostrar que ela simplesmente não quer, não está a fim, por ela mesma, por que os homens precisam entender de uma vez por todas que não são a ultima bolacha do pacote, sim migos, vocês serão rejeitados muitas vezes na vida, lidem com isso.
Outro argumento recorrente foi o “Já pensou se fosse sua mãe, irmã, etc”. Ok, é mais fácil entender quando trazemos a questão para próximo, para entes queridos, mas é de extrema importância sair do pequeno, porque existem milhões de mulheres no mundo que não tem nenhum tipo de proximidade a você, migo, e que merecem respeito tanto quanto e enquanto você continuar a separar mulheres em categorias o machismo persiste. O RESPEITO é para TODAS.
Dito isto, preciso falar dos comentários extremamente desagradáveis dos apresentadores sobre o corpo da Atriz e justificando os olhares invasivos dos homens na rua por onde ela passava, preciso? Acho que não, né?
No mais ficou evidente o tanto que é desconfortável uma situação de assédio, e o quanto os homens são invasivos e desrespeitosos. Mas acho que vale muito ressaltar que isso acontece, sempre, muito, todo dia, na vida de todas as mulheres, TODAS. A escolha do programa por uma atriz dentro do padrão de “mulherão” é também uma evidencia forte do machismo que justifica o assédio com a forma ou exposição do corpo.  
E isso precisa acabar.
A Culpa Nunca é da Vítima!
Por fim, fica a maior mensagem e o porquê de ter valido muito a pena participar do programa. Manas, estamos cada vez mais unidas e prontas para apoiar umas as outras. É muito importante denunciar, gritar, fazer um excandalo por menor que possa parecer, se é importante para você, se te abalou e agrediu, GRITE. Você terá apoio. Você não está sozinha!