14 de nov. de 2011

A Janela

Foi ao acaso que tudo começou, meio assim sem perceber e quando viu o vício já tinha tomado conta dela. Era simplesmente irresistível, ficar ali observando a vida das pessoas. Amigos e seus amigos, inimigos, conhecidos casuais, até de completos desconhecidos, ela não conseguia mais parar...

Foi engraçado o início, olhava por aquela janela e via somente o básico, a vista. Descrente de qualquer crença ou mistica nem dá bola pra essas maluquices da humanidade, ao contrário acha até divertida a criatividade das pessoas ao criarem deuses e monstros.

Tudo mudou depois daquela tarde no parque.

A tarde tava quente, uma delicia para se esticar na rede e ler, mas não, ela tinha que levar a encomenda da avó! Como sempre sobrava pra ela todas as tarefas chatas da casa. Pegou o pacote e foi, pisando fundo. O caminho por dentro do parque Trianom encurtava distancias, e por lá ela foi. Sempre desacelerava um pouco ao entrar no parque, lugar legal, floresta antiga, nascida lá, aliás o ultimo pedacinho da mata atlântica dentro da cidade. Passou o olho pela calçada de pedra portuguesa e viu, lá caído novinho o pacote de bala, pegou.

Examinando viu que tava fechado mesmo, deve ter caído do bolso de alguém, tava novo e era daquela bala boa, sabe?

Seguiu o caminho, agora um pouco mais feliz comendo as balas.

Depois que voltou da avó ainda não tinha percebido que as mudanças estavam acontecendo com ela, mas achou um pouco estranho quando passou na frente da janelinha, parece que viu uma pessoa que não via há muito e que tinha a certeza de que não existia a menor possibilidade de estar passando ali. Mas quando voltou para tirar a dúvida tava tudo como sempre, a janelinha do banheiro mostrando somente o jardim. 

Deu-se por louca e pronto, passou.

Mas aconteceu de novo, e mais uma vez! Aí não né, ficou parada olhando ali quase por uma hora até que do nada ela começou a ver, incrível!! 

Era só pensar numa pessoa e pimba aparecia ali na frente como se um portal se abrisse e via-se fotos, pensamentos, filmes, quase tudo do que estava acontecendo com a pessoa.

Pronto! Agora era oficial, ela tinha pirado de vez! Só podia ser m surto!

E o espanto que foi no dia seguinte quando percebeu q a amiga tinha MESMO comprado aquela blusa! 

Começou a crer então que realmente tinha alguma coisa esquisita com ela, será que esse "super poder" tinha alguma coisa a ver com aquela bala? Mas então porque só acontecia com a janelinha do banheiro?

E com o tempo e a prática a coisa toda ia melhorando, agora ela conseguia manipular e ver pessoas completamente desconhecidas, só pela interação com pessoas que iniciaram o peep show.

Tava ficando bom o negócio!

A pena é que só acontecia com ela e aquele vício em segredo a estava destruindo, chegou no limite do insuportável, ela não poder compartilhar isso com ninguem!

Imagina como seria legal se isso pudesse existir pra todo mundo?

E todas as pessoas então teriam suas janelinhas para as quais olhariam, assim uma até poderia saber quando ou tra entrava, elas poderiam compartilhar pensamentos e partes de vida, imagina se todas as pessoas do mundo estivessem em casa olhando por suas janelinhas?

Um comentário:

Palpitem, critiquem, julguem!