22 de ago. de 2013

Sábado

Acordou cedo, era assim já fazia um tempo, tinha finalmente conseguido entender o ritmo de seu sono e desde então dormia bem e acordava completamente descansada.
É incrível como agora tudo parecia tão simples, era só se programar, dormir as horas necessárias e pimba! Sono bom, livre de despertador e sem ficar o dia seguinte todo sonolenta. E tinha levado quase meia vida pra descobrir isso!

As vezes a gente é tão esperta pra umas coisas e tão imbecil pra outras...

Envelhercer é criar habitos.

Lê-ra isso em algum lugar faz tempo e a frase sempre retornava quando estava cometendo algum. Nunca vira a frase como censura, entendia como uma piada, as boas manias de velho, que são enfim pequenas paixões aprimoradas com os anos.
Preparar o café, por exemplo, tem todo um ritual: o vento fresco da manhã ao abrir a janela, o barulho da cidade abafado pela algazarra dos Bem-te-vis, Maritacas e Sabiás, o cheiro do pó, o perfume levantado com o vapor da água, o sabor da bebida.

Encheu a primeira caneca, acolhendo-a nas mãos aproveitando o calor, sentou no sofa.

Estava de muito bom humor aquele dia, vai ver é porque era sábado, é muito dificil ficar de mal humor num sábado.
Melhor seria se todos os dias fossem sábados...
Não, na verdade é bom ter variedade, sempre...

Aprender a apreciar pequenas coisas, momentos, algo que parecia tão futil quando mais nova, a final a juventude é para grandes revoltas, brigas, conquistas, a gente não quer perder tempo, tem que viver!
Agora, depois que o tempo passou, apreciava olhar o tempo, a vida em câmera lenta, via o sentido que perdera na pressa...
A idade, ao contrario do que se propagandeia por aí, é uma gloria e não um fardo.

Pegou a caneta e começou a escrever.

A caneta corre com o fluxo sussurado na cabeça, as imagens transcrevendo em palavras.
Mais tarde seriam relidas, editadas, transformando o jorro em historia.
É bom contar histórias, queria escrever melhor, achava seu texto fraco, sempre parecia melhor antes de escrito.
O devaneio seguia enchendo as paginas do caderno. Escrever é um exercício tão prazeroso quanto correr, ler, comer...

A história não tomou corpo e se desvanaceu sem fim. A imagem se perdeu do texto.

Fecha o caderno, se levanta e vai tomar um banho. Logo mais cozinharia um almoço para os amigos, porque era sábado, dia perfeito para cultivar paixões.